Jocenaide Maria Rossetto Silva
Na atualidade, o comportamento das sociedades em relação aos museus vem se resignificando, de um lugar de curiosidades e antiguidades para um espaço integrado no fazer museologico e deste em relação a sociedade que o produz. Esta é uma tendencia internacional, que vem se constituido nos ultimos trinta anos, cujo paradigma se pauta na perspectiva de que “... o museu apresenta tudo em função do homem: seu meio ambiente, suas crenças, suas atividades, da mais simples a mais complexa. O ponto focal do museu não é o artefato, mas o Homem, em sua plenitude”. (DESVALLÉES, 1992. Apud CÂNDIDO, 2009, p.2).
Neste sentido, o “homem” enquanto ser humano deve estar integrado aos processos museais, particularmente, em grupos e ou institucionalmente. Então indaga-se: Como se dá a participação de diferentes segmentos da sociedade nos museus? Podemos estabelecer algumas hipoteses, por meio das Associações de Amigos dos Museus. Os associados contribuem para a construção e reconstrução dos processos museais, oportunizando a apropriação e re-apropriação do patrimonio cultural. Outra maneira é o acesso por meio de convênios, termos de colaboração, parcerias institucionais. E ainda, os projetos integrados, com a participação de profissionais de diferentes especializações, inclusive com professores. Temos acesso como fuidores, na condição de visitantes, de turistas, de pesquisadores, etc... Mas, em todas as possibilidades apresentadas é bom que se ressalte que todo acesso requer, antes de mais nada, o dominio dos signos, dos simbolos, enfim da comunicação veiculada a museografia.
A comunicação é exagerada, transgressora e até abusiva neste inicio do século XXI. Mas, como é planejada e realizada a comunicação nos Museus? Quais equipamentos são utilizados? Sobre o que informam? Quais são os objetivos das informações? Quem informa?
Visitar e escrever minhas impressões sobre museus, núcleos de documentação e arquivos públicos é uma pratica que cultivo desde 1998. Somam em média vinte e cinco instituições museologicas que me permitem problematizar a relação desenvolvida com os visitantes, quer sejam visitantes esporádicos; de demandas espontâneas ou turísticas; quer sejam freqüentadores habituais como moradores da cidade, professores e alunos.
Todas as instituições visitadas disponibilizam legendas, em português e/ou bilíngüe, sobre as peças expostas; algumas como o Museu da Língua Portuguesa, localizado na Estação da Luz em São Paulo, vale-se da multimídia para informa, contextualizar explicitando novas perspectivas para representar a pluralidade de línguas estrangeiras e de algumas das 220 etnias indígenas que falam 180 línguas diferentes no território nacional. Observa-se poucos mediadores nos museus, trata-se de funcionários ou estagiários que já foram conhecidos por educadores, monitores ou guias nos museus, acompanhando grupos e fornecendo informações. Em sua maioria, é de competência dos funcionários recepcionar e, em algumas destas instituições receberem valor referente ao ingresso; a função de vigilantes para que não sejam tiradas fotografias ou danificadas as peças em sua maioria são prestadores de serviços de empresas terceirizadas. Mas, é obvio que nos “bastidores” outros trabalham para a permanente abertura das exposições ao publico.
No Mato Grosso e Goiás fiz agendamentos por telefone, medida que faciliou as informações sobre a história da casa, a história do museu e sobre as exposições permanentes ou temporárias. Nas cidades históricas de Minas Gerais, as informações foram fornecidas pelo guia de turismo que nos acompanhava. Em visitas espontâneas aos museus de Cuiabá, Brasília e São Paulo, não recebi informações sistematizadas. No caso da pesquisa sobre as políticas publicas para os museus e da pesquisa diagnóstica para a elaboração do projeto de doutorado, encaminhei formulários e marquei as entrevistas com antecedência, sendo recebida conforme o combinado.
A mediação nos museus se caracteriza pela interdisciplinaridade, tal como acontece com o objeto da museologia: o ser humano.
...a Museologia é uma disciplina aplicada cujas preocupações principais são a identificação e análise do comportamento do homem em relação ao seu patrimônio; e o desenvolvimento de processos que convertam o patrimônio em herança e participem da construção das identidades. (Bruno,1996 apud. Cândido, 2009, p.1)
Então pergunta-se: Qual patrimônio? Material? Imaterial? Na interconexão entre ambos? De qual área: humanas, sociais, biológicas,culturais? E assim, sendo cultural, de que dimensão se trata? De que povo? Onde estão? Existem museus que apresentam coleções distantes temporalmente da atualidade do homem contemporâneo, mas, qual homem? Indígena? Africano? Branco? Ou da miscigenação deste?
Ana Mae Barbosa (2009), ressalta a importância da arte na educação para o desenvolvimento das inteligências humanas, independente da etnia, da descendência, simplesmente defende que a fruição e a criação artística ampliam o sentido cognitivo da cultura nas sociedades. Assim, aponta os museus de arte como um dos espaços interdisciplinares que estimulam a leitura, re-leitura e cognição.
As discussões atualizadas sobre a relação museu e escola se colocam no sentido de complementaridade. Observa-se que é pratica corrente nos museus do Rio de Janeiro e alguns da Bahia e São Paulo, conforme é noticiado nos programas educativos da TV Escola, artigos científicos veiculados a revistas especializas e outros, a elaboração de planejamentos anuais ou semestrais com a participação de professores do ensino fundamental, médio e superior, visando integrar o museu com a escola. Assim, elaboramos um esboço para subsidiar nossas reflexões visando atingir a cadeia operatória educativa do museu, no caso da elaboração de Planos Museológicos:
1. Estabelecer políticas educativas, contemplando ações internas e externas ao setor e a própria instituição.
2. Organizar reuniões de planejamento e estudo de temáticas de interesse de professores que habitualmente levam seus alunos ao museu.
3. Elaborar projetos e concorrer a editais para a captação de recursos:
a) Recursos (materiais e humanos) para qualificar e contratar funcionarios para o museu,
b) Recursos para empreender pesquisas visando a composição de novas coleções;
c) Recursos para pesquisar peças existentes com o propósito de revelar novas perspectivas de significados, redescobrindo-as e apresentando-as ao publico.
d) Recursos para restauração, manutenção, conservação ou ampliação do prédio que abriga o museu;
e) Recursos para conservação e restauração dos acervos;
f) Recursos para Pesquisar, planejar e executar projetos de expografia;
g) Recursos para executar ações de mediação com visitantes espontâneos e turmas agendadas (alunos de ensino fundamental, médio e graduação). Trata-se de palestras, vídeos, teatro, etc... destinado a diferentes faixas etárias, sobre: a História do Museu e do nome do Museu; História da edificação que abriga o museu; A narrativa das exposições permanentes e temporárias, etc...
h) Recursos para publicações (folder, revista especializada, catálogos, etc...)
4. Desenvolvimento de estratégias para estimular a fruição e a criação visando a integração dos visitantes com a expografia;
5. Acompanhamento da multiplicação dos saberes nas escolas (no caso dos estudantes)
6. Avaliação - para a realização da avaliação é recomendado o planejamento de estratégias de participação de todos os envolvidos nos projetos: gestores (Diretor, funcionários), professores e outros parceiros, visitantes espontâneos. Este processo se enriquece sobremaneira, se o resultado for escrito e publicado pelo Museu.
Em resumo, a proposta se justifica se considerarmos que o museu está para o homem e não para os artefatos. Então a missão primeira do museu é proporcionar a identificação dos visitantes com os objetos musealizados, uma vez que estes são representações sociais, que poderão se converter em patrimônio cultural, em herança, enquanto elementos propiciadores de identidades em dimensões que se retroalimentam: identidade local, identidade regional, identidade nacional ou mesmo da humanidade.
Referencias bibliográficas
BARBOSA, Ana Mae. Para que serve a arte na educação. Disponível em http://www.blogacesso.com.br/?p=91. Acesso em 12 set. 2009.
CÂNDIDO, Manuelina Maria Duarte. Museus e conhecimento interdisciplinar. Disponível em http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=19384. Acesso em 12 set. 2009.
SILVA, Jocenaide Maria Rossetto Silva ET. All. Por uma teoria de museu. In. Markus e Feix. Fazendo História no Cerrado. Rondonópolis, MT: Stilus, 2004.
LIMA, Valdemar de Assis. Oficina de Museu, memória e cidadania. Rondonópolis, MT: 25 a 27 de agosto de 2009. Realização MinC;IPHAN;SEC-MT;Prefeitura Municipal de Rondonópolis.
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